Jamais vão esquecer a atuação do Cássio. Justo. O que ele fez foi digno de milagre, por mais que o corintiano não queira saber de santos. Jamais vão esquecer de Guerrero. Justo. Foram apenas dois cabeceios precisos, decisivos e fatais. Jamais vão esquecer de Emerson e Paulinho. Justo. Não foram bem no Mundial, mas sobraram na Libertadores.
Mas por favor, torcedor corintiano, jamais esqueça de Tite. Ele é o principal responsável por uma saga que jamais será repetida. Ele é o maior culpado por ter matado tanta gente de alegria. Foi ele que criou a maior força desse Corinthians tão brasileiro e tão mundial: a consistência tática e a força coletiva desse time só existe porque Tite existe.
Tite sempre mostrou que entende muito de futebol. Mesmo em seus fracassos mais marcantes, deixou lições táticas, nem que fosse apenas no discurso. Aliás, seu principal problema é exatamente o discurso: pausado, pensado e sempre com palavras difíceis para o mundo boleiro, ele sofre para que os jogadores entendam seu ponto. Nem sempre consegue passar a riqueza das suas mensagens.
No Corinthians essa dificuldade aconteceu, afinal existiu um Tolima no caminho. Mas Tite teve tempo e soube aproveitá-lo. Fez com que os jogadores acreditassem em seu discurso. Fez com que todos entendessem suas ideias. A marcação por pressão, avançada, é exemplo de algo pouco visto no futebol brasileiro, mas que funcionou de forma impressionante no Corinthians. Foi um dos diferenciais estratégicos do time.
Com o o elenco confiante em seu trabalho, Tite pôde inventar: diversas vezes escalou o time sem controavante, por exemplo. Deu certo, mas depois ele fez outra loucura: mudou o time para o Mundial e fez Guerrero ser titular absoluto. Funcionou novamente.
Aliás, até na final Tite resolveu colocar seu dedo na escalação: tirou Douglas do time e escalou Jorge Henrique. Um atacante entrou no lugar do meia, mas era uma mudança defensiva. Ele enxergou que o lado direito precisava de reforço na marcação, pois o ótimo Hazard atuaria por ali. Jorge é rápido e dedicado na marcação, ao contrário de Douglas, por isso foi titular. Deu tão certo que, antes do final do primeiro tempo, o Chelsea já começou a inverter o lado de Hazard, para que ele tivesse mais espaço. Era tarde demais.
Não foi apenas isso que fez o Corinthians ser campeão, é claro. Mas não foi apenas esse o mérito de Tite. Ele já tinha dado uma bela lição para o futebol brasileiro, tão atrasado em questões táticas: o time campeão nacional de 2011 não esbanjava talento, mas sobrava na organização em campo. E isso às vezes é mais importante do que o talento individual.
Tite tem coragem de mudar. Por isso muitas vezes ele erra. Por isso tantas vezes já foi criticado justamente. Mas também por isso já acertou como poucos técnicos no Brasil fizeram. Seu conhecimento tático é tão profundo e tão raro quanto seu poder de motivação. Essas qualidades montaram um time que se une para fazer o que ele manda. E certamente ele mandou o Corinthians para o topo do mundo.