Acabei de comprar o Guia do Campeonato Brasileiro de 2022. Cheguei em casa, comecei a ler, mas logo meu filho e seus amigos me cercaram. Disputaram para ver as página dos seus times, mas eu queria ver os arquivos e as estatísticas, como sempre fiz. Demorou mais de 20 minutos para isso, mas consegui. E no fim eles também se interessaram – queriam saber detalhes dos antigos campeões…
Contei a eles o que minha memória permitiu. Comecei pelo histórico Flamengo campeão de 1992, passei pelo bicampeonato do Palmeiras-Parmalat e destaquei o Túlio no título do Botafogo em 1995, sem citar as polêmicas, para não desencantar os meninos.
Em 96, lembrei da pequena gigante Portuguesa, apesar do título do Grêmio. Em 97, impossível não destacar Edmundo na conquista do Vasco. E logo veio o bi do Corinthians, com questionáveis parcerias, mas inquestionável qualidade.
Expliquei que a partir de 2000 era melhor esquecer de alguns campeões. Chamei atenção para o Santos de 2002 e 2004, com os novos Meninos da Vila; e também para o Cruzeiro de 2003, de Alex, Luxemburgo e companhia. Mas logo veio o polêmico título corintiano em 2005 e as pouco encantadoras conquistas do São Paulo em 2006, 2007 e 2008.
Em 2009 falei de Adriano e Petkovic. Em 2010 lembrei de Conca. Mas em 2011 não tinha um destaque individual, só um forte conjunto corintiano, que depois seria campeão da Libertadores. Quis continuar, mas travei em 2012.
“Por que, pai? Como você lembra de todos de antes e esquece desse? Não faz nem 10 anos”, me lembrou meu filho, esperto e bom em matemática – “deve ter puxado para a mãe”, pensei, antes de continuar me esforçando para lembrar do Fluminense campeão de 2012.
“Primeiro é preciso lembrar da Unimed. Eles tinham uma parceria que trazia muito dinheiro para o clube”, comecei. “Mas então eles tinham vários craques, como o Palmeiras de 93-94 ou o Corinthians de 98-99?”, perguntaram.
“Não, o Fluminense não tinha grandes craques. Tinha jogadores muito bons, como Fred, Thiago Neves, Jean e Diego Cavalieri”, comentei em vão – nenhum deles brilhou pela Seleção Brasileira ou na Europa, então os meninos pouco sabiam quem eram. Só conheciam Wellington Nem, que ainda joga até hoje, apesar de ter perdido o que era seu ponto forte, a velocidade.
Eles continuavam sem entender nada. Apelei para a defesa, disse que o time tomava poucos gols. Mas meu argumento caiu quando disse que os zagueiros eram os esforçados Gum e Leandro Euzébio. Diego Cavalieri fez defesas incríveis, mas os meninos eram novos demais para acreditar em milagres.
Estava cada vez mais difícil. Citei Abel Braga e isso ajudou, já que ele tinha grande currículo e foi importante para a tática do time. Mas era exigir demais o entendimento de como funcionou o 4-2-3-1 do Fluminense naquela época.
Então desisti. Parti para o Campeonato Brasileiro de 2013, era mais fácil – eles eram fãs do Neymar e rapidamente entenderam como o Santos foi campeão naquele ano.
Mas fiquei com aquela dúvida na cabeça. “Como o Fluminense foi campeão em 2012?”. Foi preciso refletir um pouco mais para entender: não há apenas um motivo que explique. É uma conjunção de fatores e foi isso que fez o título tricolor ser tão justo naquela temporada.